
História da arte e literatura afrodescendente no Brasil

Nos dias 17 a 27 de abril, ocorreu o 1º festival cultural online no Distrito Federal, Festival no Seu Quadrado, iniciativa do deputado distrital Fábio Felix. Um evento dedicado a cultura em geral, apoiando artistas locais e a manifestação cultural pelo DF por meio das mídias sociais Instagram e YouTube. Durante o festival houve apresentações musicais, danças, teatros e atividades formativas, e algumas ainda estão no ar para o público assistir. Então se tem algum interesse, ou perdeu alguma apresentação, visite o perfil do artista.
Minha atividade formativa foi um Minicurso sobre a Arte e Literatura Afrodescendente. O minicurso apresentou de maneira diacrônica e objetiva o trajeto da valorização da arte afro brasileira até a contemporaneidade, bem como a importância de levar este tema as escolas e para os profissionais da educação, pois em 2003 foi sancionada a Lei 10639/2003, que decretou a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira no sistema de ensino no Brasil, todavia, tema deixado de lado pela maioria das instituições escolares.
Dentro deste tema, foi ressaltado a influência da arte africana, que foi valorizada no final do século XIV e século XX em diante. Nesta época as esculturas e pinturas africanas deixaram de serem vistas como material etnográfico e passou a ser vista como arte por alguns artistas europeus.
Em vista da influência do movimento artístico europeu modernismo, alguns artistas brasileiros que residiram na Europa e retornaram ao Brasil buscaram representar em suas manifestações artísticas a identidade nacional, como parte do movimento modernista brasileiro. Assim, autores como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lasar Segall, entre outros, passaram a representar “o povo brasileiro”, ou seja, o negro ou o mestiço. Dois artistas afro da época modernista se destacam, Mestre Didi e Rubem Valetin, que buscaram retratar o EU e o sagrado, e não apenas o outro, uma vez que retrataram a busca da identidade e religiosidade negra em suas obras.
A partir da época modernista, o significado de cultura afro-brasileira foi posto em debate. Cabe ressaltar, que a cultura afro-brasileira está correlacionada com política, religião e resistência. Assim, a arte afro-brasileira é: política, porque é uma forma de buscar espaço social e com equidade dentro do país e fora dele; é religião, porque a religião resistiu a opressão e a submissão ao cristianismo, a religião também apresenta muitas formas artísticas, desde as vestes, os cantos, danças e oferendas; e é resistência, porque foi e é um meio de buscar e não perder identidade ancestral, como também, é um meio de posicionamento e subsistência social. Assim, arte afro-brasileira é qualquer manifestação artística que retome as tradições socioculturais negras no Brasil.
A insistência da classe majoritária em impor o que é ou não cultura, impede de enxergar que a grande parte das tradições culturais na maioria dos estados brasileiros são de origem negra, como: escola de samba, bloco afro, afoxé, bumba-meu boi; ciranda; frevo; e o Teatro Experimental Negro (TEN) etc. A arte afro-brasileira, também é manifestada em diversos contextos, principalmente no cotidiano, no artesanato, na música e nas danças populares, no teatro, artes plásticas e na literatura.
E cada vez mais a arte contemporânea afro-brasileira tem alcançado mais espaços. Daí, surge outro debate, “o que significa arte contemporânea afro-brasileira?”. Para responder está pergunta, tem-se que entender que arte afro não se encaixa em um momento histórico particular, a arte afro transcende, uma vez que ela sempre está se reinventado e buscando identidade por meio do resgate da ancestralidade e a transformando em um diálogo não padronizado.
Logo, os artistas contemporâneos afros estão sempre carregando os desafio de reinventar a própria arte e transformar as informações sobre sua própria cultura. “Essas referências intimas nas artes afro-brasileiras, estão interligadas muitas das vezes com corpos negros, situações atuais sobre a população afrodescendente, uma vez que ainda estamos presos as novas tecnologias de colonização. Como também, relacionada aos contextos onde o negro alcança dentro de uma sociedade altamente classicista e racista.” Em vista disso, é importante apontar artistas negros da literatura e artes plásticas que estão conquistando espaços majoritariamente brancos. Artistas como: Kabelenge Munanga (literário), Conceição Evaristo (literária), Antonio Obá (artista plástico), Jaime Lauriano (artista plástico), entre outros.
O minicurso também abordou sobre a arte no Distrito Federal, apontando artistas brasilienses, como também teve o momento do diálogo com Hudson Hud artista rapper, grafiteiro e empresário do DF.
Quem quiser ter acesso ao vídeo do minicurso, siga @eliza_bethfranca. Além do Minicurso, há um artigo detalhado sobre o tema, disponível em PDF: https://issuu.com/ocomprimido/docs/histo_ria_da_influe_ncia_da_arte_africana
Foto em destaque: Aka Criola