
#PortugaDiário ep5: perdidos no Porto

O #PortugaDiário foi uma série que escrevi de 2011 a 2012, durante meu intercâmbio na Universidade do Porto. Viajei por toda a Europa e contei um pouquinho disso no blog. Como o antigo site foi perdido, estou republicando a série, semanalmente, assim como a original. Acompanhe e envie para seus amigos interessados em viajar pelo mundo!
Dormimos até tarde, finalmente. Arrumar a papelada, organizar os documentos, lá se foi a manhã. Na hora de comprar o cupom para almoçar “Não há troco disponível”. Descobrimos que a máquina devolve no máximo cinco euros. Ok, a gente troca com alguém da fila. Sem problema, vou até o Bar e compro uma bala. Tudo bem, vou até o banco e saco dinheiro. Nada.
Há males que vem para o bem, é verdade, e foi o caso. Depois de passar algum tempo mexendo na máquina do refeitório a Gaby descobre que dá para comprar cupons não só para o mesmo dia, mas para o mês todo! Sim, calouro é assim mesmo. Agora as coisas fazem mais sentido…
De tarde voltei à Faculdade, dessa vez com todos os documentos para dar entrada na minha matrícula. Estou sentado, esperando ser atendido, quando escuto vozes numa língua esquisita. Duas garotas conversam sobre as matérias que pretendem pegar na faculdade. Duas loiras.
…
…
RUSSAS!
Ok, uma hora eu encontraria pessoas da ex-União Soviética, mas não contive o sorriso! Depois de uma semana vendo portuguesas de um lado para o outro aquelas russas com certeza despertaram a minha atenção. Não só pela beleza, mas é porque é emocionante encontrar pessoas de culturas tão diferentes, ainda mais lá do Leste Europeu. Ok, quando encontrei o japonês ontem não fiquei tão emocionado… mas fala sério haha.
Não consegui conversar com elas, tinha que fazer a matrícula, mas depois disso eu refleti um pouco. Os brasileiros intercambistas são legais, já até marcamos de sair essa semana e tal, mas decidi que preciso conhecer pessoas de outras realidades. Italianos, gregos, portugueses, franceses etc… Essa é a magia do intercâmbio e não posso deixar isso passar.
Continuando a história…
De tarde resolvemos ir até o Centro de Imigrantes resolver de vez todas essas pendências com reitoria/imigração/sei lá, qualquer burocracia, porque já está cansando essa brincadeira. Foi uma boa ideia. Foi. Teoricamente o CNAI é bem próximo, é só ir até a Faculdade de Direito, andar mais uma ou duas ruas e voilá!
Saímos da Faculdade de Letras pela saída lateral, viramos na rua acima e seguimos até uma praça. De lá avistamos a placa Faculdade de Direito. Estamos no caminho certo!
O que não levamos em conta é que estas placas foram feitas para guiar os carros. Nós havíamos visto na internet o caminho de pedestre. Seguir um pouco de cada caminho, definitivamente, não foi uma boa ideia.
Onde fica a faculdade de Letras? E o Centro de Imigrante? A rua Pinheiro? Ah sim, segue reto aqui até o viaduto e depois pega a direita. Centro de Imigrante? Desce aqui até o final e vira no semáforo. Pois bem, pegue o 457, solte dali a dois semáforos e estará logo a sua direita.
Pra complicar mais ainda há vários Centros de Imigrantes pela cidade, mas precisamos deste específico na Rua dos Pinheiros (na verdade isso é bem simples de entender, só não para algumas pessoas que tentaram nos ajudar).
Nota mental: nunca esqueça o mapa de bolso em casa
(nessa época não tinha GPS no celular, galera)
Depois de algum tempo finalmente encontramos a Faculdade de Direito. Isso já eram quase quatro horas da tarde (saímos três horas da faculdade de letras). Entramos para pedir informação e vemos várias pessoas de jaleco. Olhamos para a frente e vemos um vitral enorme “Faculdade de Farmárcia”. Err..
Voltar para casa era fácil. Estávamos calmos em relação a isso. Morar ao lado da Casa da Música e da Rotunda da Boa Vista tem lá suas vantagens, e o jeito calmo meu e da Gaby facilita as coisas. Mas chegar naquele lugar estava começando a ficar realmente complicado.
Na maior parte do tempo estávamos andando pela Trindade, que é como o subúrbio da cidade (sinceramente não entendi se é um bairro, distrito, sei lá). Tem algumas (muitas) casas e construções abandonadas, reflexos talvez da economia em decadência. É uma região que parece ter tido um passado muito bonito.
“É MUITO SIMPLES”
Estávamos quase desistindo quando a Gaby pediu informação a um senhor. “Rua dos Pinheiros? Ora pois é muito simples, desce direto aqui nesta rua, logo em seguida você verá uma escada a sua direita. Suba e estará no Serviço de Imigrantes” (para uma compreensão mais realista tente ler mentalmente esta frase com um sotaque português haha fica idêntico!). Pode ter parecido apenas mais uma ajuda qualquer, mas não. O senhor enfatizou cada sílaba com tanta certeza que eu acreditaria em qualquer coisa que ele dissesse. Seguimos o seu caminho e PRONTO!
Chegamos no CNAI às quatro e vinte e nove minutos. Pensamos que ele fechasse às quatro e meia. Fechou quatro horas. Um pouco abatidos e cansados da aventura fracassada, resolvemos procurar um lugar para descansar. Nossa primeira escolha acertada do dia =)
O legal de Porto é exatamente isso. Quando menos se espera, no meio do nada, você encontra uma lojinha de antiguidades, um café antigo ou qualquer coisa do tipo. O Metro da Trindade, situado a menos de 200m da estação de Metro real, é um desses achados. Chá de limão a cinquenta cents e rocambole sem leite tornaram a tarde doce e tranquila.
A música ambiente era outro achado. Enquanto víamos as pessoas passarem pela janela e tomávamos nosso chá das cinco escutávamos grandes sucessos atuais e antigos. De repente começa When you’re gonna stop breaking my heart…
PIRIPUB!
Essa é a música (Stereo Love) que tocou numa boate em Pirenópolis na primeira vez que eu, Mari e Elis saímos juntos (minhas melhores amigas). É uma coisa tão distante que aconteceu há tanto tempo e de repente ali, no interior de Portugal, senti como se tudo tivesse acontecido ontem. Me senti feliz por ter a sorte de ter tantas pessoas que me amam e saber que poderei sempre contar com elas. E vice-versa.
Na volta para casa fizemos o cartão do transporte público. Por apenas catorze euros mensais posso andar ilimitadamente de ônibus e metro pelas principais regiões da cidade. Para sair do distrito, como farei amanhã, custará no máximo 1 euro e oitenta centavos. A facilidade de pegar transporte público é tanta que os portugueses não tem o hábito de andar. Quando pedíamos informação e o local se encontrava a mais do que duas quadras “Ah você pega o ônibus tal e solta ali depois do segundo semáforo”.
O transporte público no Brasil é tão ruim que o pobre-coitado tem que andar debaixo do sol quente às vezes por quilômetros para economizar uma passagem, ou mesmo para pegar o ônibus. Não seria tudo mais fácil com uma simples mensalidade?
PS: por mais que as russas tenham me chamado a atenção, trocaria as duas por um sorriso da lis e da mari, vocês são lindas, eu amo muito vocês e estou morrendo de saudade =) ah sim, um abraço apertado do henrique também seria uma troca bem justa hehe
E até o próximo capítulo!