
José Carlos Tórtima encara seu algoz, Major Jacarandá

Neste aniversário de 57 anos do golpe que estabeleceu uma ditadura civil-militar (e empresarial) no Brasil, precisamos encarar que muitos dos problemas que enfrentamos hoje vem não só deste período (a ditadura aumentou MUITO a desigualdade social, por exemplo) como principalmente da falta de conhecimento sobre a nossa história.
Tivemos uma transição que inocentou torturadores sem que ao menos tivessem que admitir seus crimes. Passamos anos tratando o assunto como tabu, eu mesmo aprendi na escola que 1964 foi o ano da “revolução”. Nossa Comissão da Verdade nasceu com tanto atraso que a boa parte dos criminosos já tinham falecido. O relatório final, que deveria ter sido incorporado nas aulas de história e divulgado pela imprensa, foi tratado como peça de museu.
Gosto dessa foto (e desta audiência em particular) porque foi uma das poucas em que o torturador, no caso o coronel Jacarandá, admitiu à Comissão da Verdade que participou de interrogatórios em que foram usadas práticas de tortura como choques elétricos, espancamentos e pau de arara. Se o Brasil tivesse passado essa história a limpo, com mais exemplos como esse, ninguém ia cair no papo de que “não houve ditadura” ou que não houve tortura, porque não teríamos apenas a versão das vítimas mas também dos algozes. Nesse caso, mais importante que a punição aos envolvidos é considerar o quanto isso é pedagógico.
Na África do Sul, por exemplo, na Comissão da Verdade criada pós apartheid, eram anistiados os torturadores que admitiam seus crimes e colaboravam com a Justiça – o que permitiu a famílias entenderem melhor o que aconteceu com seus entes queridos e encontrar corpos de desaparecidos políticos. Guardadas as diferenças entre os regimes e os países, e considerando que a comissão de lá também teve inúmeros problemas, me parece uma atuação cujo objetivo era realmente, como disse Mandela no seu discurso de pose, “curar as feridas” do país.
Na foto (veja também no Instagram), Tórtima, de pé, foi um dos torturados pelo coronel Jacarandá, sentado e covardemente de óculos escuros.