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Defender a democracia mas não de qualquer jeito

Um vídeo informal, baseado numa série de discussões no twitter, sobre o avanço fascista, a ameaça de golpe militar, o antipetismo, a perseguição ao Lula e o que a esquerda tem feito de certo e de errado pra conter isso. Spoiler: até o momento, tá dando mais errado do que certo.

Resumão do vídeo na thread: https://twitter.com/safbf/status/981527652392718337

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Créditos: Música de fundo (Jason Shaw) e da vinheta (Alexander) http://www.orangefreesounds.com

Thread do twitter

Temos várias ideias no senso comum sobre o que é democracia e o que é golpe. No geral, da década de 80 pra cá, o padrão é a discussão da ditadura militar pós-golpe 64 e a democracia recente vinculada à constituição de 88. Mas o Brasil tem um problema relacionado a isso. A direita anti-democrática sempre se empenhou no revisionismo histórico e pra barrar a popularização de conhecimentos da comissão da verdade. Como resultado, o Brasil não teve um processo de verdade, reconciliação e reparação.

Esse tipo de processo é fundamental na cultura de uma nação pra reafirmar visões de “ditadura nunca mais.” A mídia burguesa é parceira em barrar isso também e isso permite construções idealistas do passado. Uma das mais fortes é que “com os militares não tinha corrupção.” Isso é mentira, claro. Historiadores já desvendaram como a corrupção corria solta mas era acobertada pela censura e a mídia colaboradora. Mas como ensinar história no Brasil tá atrelado a coisa de esquerdista, no senso comum se propaga até que a ditadura não foi bem ima ditadura!

Com isso a gente encontra uma barreira geracional: pessoas que viveram sob a ditadura e viram os horrores e os que ficaram cegos pros horrores & uma geração nascida após a ditadura que leva história a sério ou compra o discurso de louvor à ordem e a Ustra. Qual a consequência disso? Como a nossa democracia é uma criança em termos de democracia, e uma sempre ameaçada, ela é sempre definida de acordo com seu oposto. E como o oposto é horrível, nosso padrão de romper com os limites da democracia liberal é suprimido.

Materialmente, melhor uma democracia restrita do que uma ditadura, claro!

Só que no sentido de projeto liberal, faz sentido. No projeto de esquerda, temos um problema. A gente fica na defensiva, e deixa de construir uma democracia ampliada e recua no aspecto revolucionário. Chega pra conjuntura pós 2013 e temos um problema concreto de termos nos acostumado com a democracia restrita: crise de representação, e a instrumentalização da pauta anti-corrupção pela direita dita democrática e a anti-democrática.

“Dita democrática” porque ela diz defender a democracia, mas na prática pretende restringi-la cada vez mais. Por isso foi fundamental no golpe parlamentar pra retirar a Dilma. Retirar o PT significava maior abertura pra deitar e rolar com o capital ainda sob o republicanismo. Só que desde então, sob democracia bem restrita e republicanismo burguês, a esquerda voltou a se empenhar na polarização dos termos como definição. Se teve golpe, a democracia foi atacada. Fato. Só que alguns chegaram ao ponto de propagar o fim da democracia e “ditadura Temer.”

Essa é uma banalização grande em sentido histórico, pois nem todo ataque à democracia evolui pra uma ditadura. Pode caminhar pra uma, mas também pode ser que não. Isso vai depender da capacidade de organizar pela restauração dos moldes democráticos anteriores e politização. E aí temos um problema: o anti-petismo. Na boca da direita, o anti-petismo é sempre um anti-comunismo. Realmente sobra pra todo mundo porque vendem tudo que não é espelho como PT e comuna. E desde o mensalão ganharam ferramentas pra equalizar PT/esquerda com corrupção.

Direita

Isso é útil pra direita dita democrática, porque esconde sua própria corrupção, e pra anti-democrática, porque cria um Inimigo da nação. Cresce então o discurso ultra-político de polarização em torno de um Inimigo manufaturado. Não é a corrupção a Inimiga, é PT/Lula/esquerda. Como a esquerda nunca conseguiu mobilizar a pauta anticorrupção com a politização e sem moralismos necessária pra combater a forma moralista, despolitizada e anti-comunista da direita, chegamos a uma encruzilhada. Defender a democracia pelos direitos e pra esquerda poder existir.

Nosso horizonte se limita, porque a existência da esquerda é caçada na ultra-política no sentido mais figurativo, de discurso mesmo, de legitimidade já na democracia restrita. Se se instaura uma ditadura, a caça fica concreta de direitos, censura, e tortura. Então temos que defender a democracia. Temos. Mas essa frase sozinha não significa nada de concreto pra uma população que ou se acostumiu com a democracia restrita, ou apoia limitar direitos e perseguições se for pra combater o Inimigo.

Seria necessário trazer um significado mobilizador pra defesa da democracia pro povo. Como Lula é o bode expiatório perfeito pra perseguição à esquerda, os ataques de centram nele. Mas a esquerda caiu na ideia de que a defesa também deveria e que isso bastaria. Não bastou, sabe por quê? Porque o antipetismo já se enraizou, e se você faz uma defesa coerente da democracia mas seu significado está atrelado à defender Lula da prisão ou pra concorrer à eleição, o antipetismo mobilizará mais efetivamente pela supressão democrática do Inimigo.

Tweet

Aí a gente vê muita gente que perde com a supressão democrática dar de ombros sobre tweet de general, golpe de Temer, STF, e tudo mais. Porque democracia já não significava muita coisa além de ou não-ditadura ou um estado de direito limitado e seletivo, muito menos defender Lula. Por isso eu comentei que pra ELEIÇÃO (Anticast), construir uma campanha quase toda na defesa da democracia não é efetivo porque não tem significado politizado geral no qual se fundamentar. Chegamos ao ponto em que Lula preso e solto significa democracia pra pessoas diferentes.

Pra CAMPANHA, você tem que pautar em coisas que o povo lida diretamente, e não conceitos que na esquerda vale muito mas no senso comum foram banalizados e instrumentalizados com intenção anti-comunista. Afinal, tem quem acha que é o comunismo que ameaça a democracia no Brasil. A LUTA democrática obviamente deve continuar. Mas faze-la ao redor da defesa do Lula, mesmo sendo os discursos e esforços pela sua prisão parte do ataque anti-democrático, não é muito efetivo porque muitos estão contentes em rifar a democracia pra satisfazer seu antipetismo.

Fazê-la na defesa de Lula é cair no jogo ultra-político que gera esse paradoxo que defender Lula é defender a democracia /prender Lula e exército intervir pra garantir isso é democracia. A gente vê como o segundo não faz sentido, mas ele é propagado e ganha lastro no antipetismo. O que fazer? Meu palpite (palpite!) é que toda defesa democrática tem que ser ampla. Lula e a esquerda partidária sofrem, mas não são nem serão os únicos. E todo grupo que se diz democrático, tem que provar se é mesmo. O difícil é o seguinte: clique aqui para continuar lendo.

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Sobre o autor

Tese Onze

Tese Onze é um projeto de educação política com a perspectiva ecossocialista que reúne centenas de milhares de pessoas interessadas em aprender para mudar o mundo. O conteúdo dos vídeos e a maior parte da produção é realizada por Sabrina Fernandes, bacharel em economia, mestra em economia política, doutora em Sociologia, militante ecossocialista, feminista e vegana. Este site é um parceiro que ajuda a compartilhar o conteúdo do projeto.

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